Livro: "Stephen King - A biografia: Coração assombrado", de Lisa Rogak


Eu escolhi a biografia de Stephen King para ler em dezembro e arejar minha cabeça da pesquisa de doutorado. O livro foi lançado pela DarkSide em 2013 com uma edição bastante sóbria, mas depois de esgotado ganhou uma nova roupagem mais caprichada, em capa dura, que fica linda na estante... As cores (vermelho, branco, azul e preto) remetem a uma estética de terror oitentista exagerada - no bom sentido -, reforçada pela fonte usada para escrever o nome de Stephen King na lateral. Mas há um grande defeito: o nome da autora não está na capa, nem na lateral do livro, mas apenas na contracapa e na folha de rosto. Por mais que a grande atração da obra seja o biografado, acho importante destacar quem realizou o trabalho, ou seja, a biógrafa.

Além do mais, para quem acompanha e gosta desse estilo literário há certos nomes que de cara fazem com que você desista da leitura ou se empolgue ainda mais. Lisa Rogak é mais conhecida nos Estados Unidos, mas já teve outros livros publicados no Brasil, a exemplo da biografia de Papa Francisco em parceria com Julie Schwietert Collazo, lançada em 2013 pela editora Record. Seu estilo de escrita simples e diretamente narrativo é agradável, tornando seu trabalho comercial.

Não há dúvidas quanto à qualidade da pesquisa realizada por Rogak para elaborar o texto - e, como acadêmica, adoro poder encontrar as referências precisas às fontes no fim do livro -, lançando mão, com frequência, das próprias palavras de King. Uma das coisas mais interessantes para os fãs do escritor lendário é perceber o quão comum ele é, apesar de sua tendência a desenvolver obsessões - seja por drogas, seja pela escrita.

Rogak aborda a infância e adolescência do escritor, mostrando como a pobreza intensa e o abandono pelo pai tiveram papel importante na formação de Stephen King e, inclusive, de seus medos. Na faculdade e depois de se casar com Tabitha a pobreza continuou, junto à insistência do escritor em ter seus textos publicados, enquanto trabalhava em empregos que muitas vezes não condiziam com sua formação como professor - função que exerceu por um tempo, mas que também não gerava renda o suficiente para bancar a família.

Somente em 1973, quando o casal já tinha seus três filhos, as coisas mudaram, quando Carrie, a estranha recebeu uma proposta de publicação. Daí em diante, os números só cresceram para a família King.

A biógrafa passa brevemente pelos processos de criação das obras mais emblemáticas de King e oferece um vislumbre que pode ser bastante útil para escritores em geral. O debate sobre alta literatura e literatura popular frequentemente levantado pelo autor também perpassa a obra.

O leitor ainda conhecerá o difícil período em que King se manteve viciado em álcool e cocaína, a aversão da família pela falta de privacidade como consequência da fama, os caminhos na escrita seguidos por Tabitha - que já era escritora quando conheceu o futuro marido na faculdade - e pelos dois filhos mais velhos do casal, entre outras micronarrativas que dão corpo a essa história.

Se você deseja começar o ano com um bom livro, não irá se arrepender ao optar por essa biografia!



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